quarta-feira, 6 de maio de 2009

Obesidade: o Estômago "paga o pato"

O Estômago durante o ato cirúrgico.


Imagine que cada célula, cada órgão ou sistema do corpo tenha uma consciência. E na verdade tem. Não uma consciência como limitadamente a conhecemos, pois até os átomos a têm evidenciada no fenômeno de não localidade quântica. Sendo assim, nenhum órgão quer pagar o preço de uma punição por algo que não é culpado.Você passou anos se empanturrando de calorias na ilusória crença de que estava preenchendo seu vazio emocional, vazio esse criado por seu próprio abandono emocional. Viu isso acontecer à sua mãe, ao seu pai e aos seus irmãos. Talvez também tenha visto isso em seus demais parentes ou em pessoas de seu relacionamento mais próximo.Então, você foi ao médico. Um famoso cirurgião geral especializado em redução de estômago. Apesar do medo inerente a quem vai se submeter a uma cirurgia de médio a grande porte, você está animado. Particularmente, eu não sei com o quê. Mas está animado, pois, em um quase passe de mágica e dentro de mais alguns meses você estará bem mais magro. Talvez 30, 40 ou 50 kg mais leve. Só vai precisar saber o que fará com as pelancas, mas isso, dedução sua, é o de menos. "Uma plástica resolverá", diz o gordinho confiante.Mas, deixe-me dizer algo. E isso é muito sério. Não obstante o avanço galopante da medicina, muitos médicos recuaram na ética e no bom senso. Não será difícil encontrar algum que o opere, embora você tenha apenas 20 kg acima do recomendável, situação que se resolve com mudança de alguns hábitos alimentares e a realização de atividade física leve, porém regular. Não importa o que lhe digam, nem quantas estatísticas maquiadas lhe mostrem, você correrá risco na mesa de cirurgia, até porque a obesidade multiplicou seus fatores de risco.Defenderei seu estômago agora. Ele está lá, no lugarzinho dele, executando suas funções habituais e mais conhecidas, como a de iniciar o processo de digestão pela secreção de ácido clorídrico (HCl). O mesmo HCl que foi derramado em seu estômago quando não havia alimento, mas sua cabeça estava preocupada, ansiosa, angustiada e com medo de não sei o quê, provocando-lhe azia, gastrite e úlcera. Pois bem, o estômago está lá e, de repente, sente que sua privacidade foi burlada. Pela primeira vez ele "viu" a luz - não a luz da sabedoria, mas a das lâmpadas do holofote da sala de cirurgia. Que choque! Nunca a havia visto e, de uma hora para outra, depara-se com uma potentíssima luz branca.Começa o drama do pobre estômago. Ele "vê" mãos enluvadas o cutucarem para cima e para baixo, para um lado e outro. Em um esforço quase hercúleo para "enxergar", percebe que se aproxima dele algo semelhante a uma pequena faca, extremamente afiada - o bisturi a frio-, junto com ferros que arregaçam - os afastadores - a antes segura parede abdominal e um monte de ferramentas estranhas que o beliscam, prensam-no e o repuxam de um lado para outro - as pinças. "Vê" também, com assombro inquietante, o que se parece com uma caneta, mas que tem um metal rombo em uma ponta e um fio ligado a um aparelho em outra. Essa "coisa" faz um barulhinho de transmissão elétrica, um "tzi-tzi-tzi" - o bisturi elétrico-, e quando atua, deixa um cheiro de churrasco no ar. "Será que vão me comer assado?", pergunta aflito o estômago.De repente!, uma dor lancinante. E o estômago percebe que está sangrando. Está sendo cortado. Que horror!!! Mas a dor é maior e ele se pergunta: "Quando isso vai acabar? O que querem de mim? Por que me agridem se nada fiz de errado?" Atônito e ferido, o estômago agora nota que um pedaço dele está sendo retirado - usurpado, roubado, afanado. E ele continua indagando: "Por que estão me levando uma parte? Sabiam que preciso dela para poder trabalhar bem? Que maluquice é essa?" Que loucura!! Mutilado e perplexo, o estômago passa a sentir que o estão costurando, como se fosse um retalho de pano. Que aperto, que dor, que agonia. "O que fizeram comigo? E por que isso?", questionou o estômago.De repente, uma escuridão. A mesma com a qual ele conviveu por décadas, desde que nasceu. Finalmente, embora mutilado e restrito, o estômago pode se aquietar um pouco. Roubaram-lhe o trabalho, surrupiaram-lhe parte de suas funções e o condenaram a um "crime" que nunca tinha cometido. Mas, pelo menos, a escuridão havia voltado. Passado o trauma mais agudo, o estômago ficou sabendo que nunca havia cometido crime algum, mas o seu chefe - o gordinho, em associação com pessoas terceirizadas - os médicos - haviam decidido que ele "pagaria o pato" pelo desajuste do cérebro e de sua mente paranóica - a do gordinho. Que injustiça! Que descalabro! Que horror!Então, em resposta à agressão injustamente sofrida, o estômago disse: "Pensam que isso vai ficar assim? Bem que eu já vinha percebendo que esse cara vivia jogando ácido (HCl) em mim. Vou-lhe pegar, chefe. Aguarde!!!"

Postagem realizada pelo grupo: Pré Biólogos

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